quarta-feira, 21 de abril de 2010

2MCSNPP/2MCSNJO/"JANELA DA ALMA"

Uma instigante reflexão sobre a percepção da realidade, a tênue fronteira entre o VER E o NÃO VER, e os caminhos cujas veias foram abertas através da Educação do Olhar e dos demais sentidos.


Resumo:
JANELA DA ALMA é um dos documentários mais premiados do cinema brasileiro. Poético, lúdico e surpreendente, o filme reúne celebridades como o prêmio Nobel José Saramago, o músico Hermeto Paschoal, o cineasta alemão Wim Wenders, o fotógrafo cego Evgen Bavcar, o neurologista Oliver Sachs entre outros 14 entrevistados. Os depoimentos são revelações pessoais e inesperados sobre vários aspectos relativos da visão e da percepção (educação através de todos os sentidos): o uso de óculos e suas implicações sobre a personalidade; o significado de VER OU NÃO VER, um mundo saturado de imagens e a importância das EMOÇÕES como elemento transformador da realidade – SE É QUE ELA É A MESMA PARA TODOS.



JANELA DA ALMA/ Principais momentos

1) JANELA DA ALMA começa com a tela escura. Sem luz. Acendem um fósforo: luz. Aparece a imagem. Bíblico. Revelador: somente vemos o mundo quando temos a luz para iluminá-lo. Gravetos pegando fogo. Um giro no anel da objetiva e o fogo vira outra imagem, algo gráfico, que parece fogo mas agora é outra imagem. A mesma imagem pode ter leituras diferentes e significados diferentes dependendo do ponto de vista, da luz, da objetiva e do repertório de quem olha.


2) O músico Hermeto Pascoal diz que é difícil manter a mesma direção do olhar “porque a vista dele dança”. Temos que aprender que a nossa vista, instintivamente, dança, busca superar o pequeno ângulo da nossa visão. Cabe ao publicitário a busca do fixar o olhar no essencial. Pascoal completa: “que vista rica...”. A vista é rica. A função do fotógrafo é escolher o melhor da imagem, o conjunto que melhor sintetiza aquele momento. Escolher é opinar. E só é possível ter uma opinião mais apurada QUANTO MAIS APURADO FOR O NOSSO REPERTÓRIO.



3) O escritor José Saramago diz que “Nós não temos os olhos como a águia e o falcão”. Explica, brilhantemente, como Romeu não amaria Julieta e qual a limitação dos nossos olhos. Não quer dizer da câmera.


4) “Se o olho é a Janela da Alma, então você tem que olhar por essa janela com outro olho. E esse outro olho também é uma janela. A janela não olha. Quem olha é um outro olho através da janela.” A reflexão de Antonio Cícero é fundamental para a EDUCAÇÃO DO OLHAR. Quem olha não é o seu olho físico. Mas o seu OLHO REPERTÓRIO. E se você não tiver, não cultivar (EDUCAR) dia-a-dia o seu repertório, VOCÊ VERÁ POUCO OU NADA!


5) “Felizmente, a maioria de nós é CAPAZ DE VER COM OS OUVIDOS DE OUVIR E VER COM O CÉREBRO, COM O ESTÔMAGO E A ALMA. Creio que vemos em parte com os olhos, mas não exclusivamente.” Reflete, brilhantemente, o cineasta Wim Wenders.


6) O fotógrafo cego Evgen Bavcar: “As vezes, percebo por mim mesmo, ou escuto e oriento a máquina em direção à voz. Ás vezes, alguém me conta, às vezes são os livros que me contam, às vezes, é meu coração que me conta... É preciso tentar existir por si mesmo.”


7) “Você nunca se descobre pensando (imagens) fora de foco. A idéia do fora de foco , num mundo nosso visual, é muito grave. O mundo está fora de foco ou eu estaria? Fora de foco pode e é uma metáfora de “falta de repertório”.


8) “A primeira vez que eu coloquei óculos, foi notar a quantidade de detalhes que se vê e eu não via.”, conta Antonio Cícero. “Quando coloquei os óculos e vi a multiplicidade de que era composta uma árvore – que antes eu via apenas como uma massa -, aquilo foi uma descoberta maravilhosa. ÓCULOS: cultura, educação, novas experiências, viagens, aprender novas línguas, ler, ir ao teatro, ao cinema, educação formal e informal...).OLHAR MAIS EDUCADO. Melhor percepção. Mais repertório.


9) “Apesar de enxergar bem sem os óculos, e os procurava, sentia falta do enquadramento. Acho que (com óculos) a visão é mais seletiva. Temos mais consciência do que vemos de fato. Sem os óculos, tenho a impressão de ver demais (ou de menos, grifo meu). E não quero ver tanto, quero ver de forma mais contida (Objetiva, grifo meu)”. Wim Wenders.


10) “Antes eu via bem, depois passei a não ver. Não foi a realidade que me chamou a atenção para tal fato, foi o cinema. Assistindo um filme, eu percebi que não via em foco.” Walter Lima Júnior, cineasta. O cinema, nesse caso, deu repertório ao cineasta para se armar de óculos de poder assim ver melhor a realidade que o envolvia.


11) Oliver Sacks: “Se dizemos que os olhos são a janela da alma, sugerimos, de certa forma, que os olhos são passivos... e que as coisas (imagens) apenas entram. Mas a alma e a imaginação também saem. O que VEMOS É CONSTANTEMENTE MODIFICADO POR NOSSO CONHECIMENTO (repertório, grifo meu), nossos anseios, nossos desejos, nossas emoções, pela cultura, pelas teorias científicas mais recentes... Assim eu posso, também, ver com os olhos da mente.”



12) Arnaldo Godoy, deficiente visual:” Eu tenho que ficar ligado em outros referenciais: descida, subida, vira, barulho da rua.... eu vou construindo essas referências na idéia...”



13) Oliver Sacks: “Todos nós somos criaturas emocionais, e creio que todas as nossas percepções, as nossas sensações e experiências são carregadas, de emoção pessoal. Acredito que a emoção fique, por assim dizer, codificada na imagem...



14) O que é o olhar? Pergunta Arnaldo Godoy. É uma interpretação. Tudo o que a gente olha, a gente está mediado pelos nossos conceitos, pelos nossos valores... ATENÇÃO: SE O OLHAR É UMA INTERPRETAÇÃO, VOCÊ PRECISA DE ELEMENTOS (REPERTÓRIO) PARA EXECUTAR TAL INTERPRETAÇÃO. Caso contrário, você corre o risco de fazer uma “interpretação equivocada, parcial ou até completamente errada”.


15) José Saramago:” E se nós fóssemos todos cegos? Mas nós somos realmente cegos, cegos da nossa razão, cegos da nossa sensibilidade, cegos daquilo que faz de nós não um ser funcional da relação humana, mas o contrário, um ser agressivo, um ser violento, isso é o que nós somos... E o espetáculo que o mundo nos oferece é precisamente esse: um mundo de desigualdades, um mundo de sofrimento, sem justificação... é claro, com explicação, mas não tem justificação.”




16) José Saramago: “Vivemos todos num Luna Park audiovisual. Onde os sons se multiplicam, onde as imagens se multiplicam e onde nós, mais ou menos creio, vamos cada vez mais nos sentir perdidos. Perdidos, em primeiro lugar, de nós próprios. E em segundo lugar, perdidos na relação com o mundo.”


“Janela da Alma” – Direção João Jardim e Walter Carvalho. Distribuição: Europa Filmes. 73 minutos.


Uniersidade São Judas Tadeu - 2010
prof. José Edward